Disgrafia: o que é, sintomas, causas, exemplos e tratamento

Disgrafia: o que é, sintomas, causas, exemplos e tratamento

Sara Paiva
Sara Paiva |  
Terapias |  07 outubro 2025 |  
11 min. de leitura
mulher apoia criança com disgrafia a escrever

Aprender a escrever é uma das etapas mais importantes no desenvolvimento das crianças. No entanto, algumas não acompanham o ritmo esperado, apresentando dificuldades que nada têm que ver com falta de inteligência, entre essas a disgrafia.

Crianças com disgrafia têm dificuldades em desenhar as letras e/ou têm “letra feia”. Trata-se de um distúrbio que interfere na escrita e pode prejudicar o desempenho escolar e a autoconfiança, o qual pode estar associado a TDAH, habilidade motora e outros fatores.

Conhecer o problema é o primeiro passo para ultrapassá-lo. Aqui trazemos-lhe informações úteis sobre disgrafia, de forma que possa identificá-la precocemente, caso aconteça com o seu filho ou educando.

O que é a disgrafia?

A palavra “disgrafia” tem origem no grego e resulta da junção das palavras dis (desvio) e grafia (escrita). Refere-se, então, a uma dificuldade persistente no ato motor da escrita.

Escrever requer destreza e capacidade motora, as quais se desenvolvem ao longo do percurso escolar. Para escrever bem, é necessário ter alguns requisitos básicos:

  • Capacidades psicomotoras gerais — incluímos, aqui, coordenação óculo-manual, esquema corporal, motricidade fina, esquema espacial, lateralidade, inibição e controlo neuromuscular, reconhecimento de formas, espaço e distâncias;

  • Coordenação funcional da mão — a criança tem de dominar os movimentos de pressão e preensão, assim como tem de ter desenvolvida a independência mão-braço;

  • Hábitos neuromotores — devem estar bem estabelecidos os: posicionamento correto do lápis/caneta, visão e transcrição da esquerda para a direita.

Quando há alguma falha nestes requisitos, a criança pode apresentar:

  • Traços irregulares ou letras difíceis de ler;

  • Caligrafia com tamanhos desproporcionados;

  • Dificuldade em manter as palavras alinhadas na folha;

  • Esforço exagerado para escrever;

  • Dores na mão ou no braço ao/após escrever.

A disgrafia não está associada à inteligência, mas sim a problemas motores e ao modo como o cérebro organiza os movimentos necessários para escrever.

Tipos de disgrafia

Há várias classificações dos tipos de disgrafia. São elas:

  • Motora — a criança compreende os símbolos, mas não consegue reproduzi-los corretamente por dificuldades motoras;

  • Específica — dificuldade na perceção espacial e temporal, no ritmo da escrita e na perceção de formas para reprodução dos símbolos, mas sem défices motores;

  • Fonológica — problemas na conversão fonema-grafema pela dificuldade em integrar a forma das palavras;

  • Superficial — falhas na via visual, não tendo a construção de palavras integrada, originando a erros nos grafemas de palavras homófonas (leem-se da mesma forma, mas escrevem-se de forma diferente) e poligráficas (com grafia arbitrária).

  • Mista ou profunda — quando mais do que uma via de processamento (visual e motora) está afetada.

Diferença entre disgrafia, disortografia e dislexia

Disgrafia, disortografia e dislexia são todos transtornos relacionados com a escrita, mas não são a mesma coisa. Entenda:

  • Disgrafia — caracteriza-se pela dificuldade motora e gráfica ao escrever (caligrafia irregular e ilegível), sendo comum apresentar dificuldades de ortografia. Pessoas com disgrafia têm dificuldade em escrever de forma organizada e em linha reta, têm dificuldade em manter a pressão correta ao segurar o lápis, as letras são irregulares (muito grandes ou pequenas, mistura de maiúsculas e minúsculas, sem critério), entre outros sintomas que veremos a seguir;

  • Disortografia — caracteriza-se pela dificuldade em aplicar regras ortográficas, sem problemas grafomotores ou de leitura. Pessoas com disortografia apresentam dificuldades no reconhecimento e na aplicação de regras de ortografia, o que faz com que cometam erros frequentes (mesmo em palavras fáceis);

  • Dislexia — é um distúrbio específico da leitura, que pode afetar também a escrita e a compreensão. Pessoas com dislexia frequentemente apresentam dificuldades em entender o que leem, cometem erros durante a leitura e leem devagar. É comum, também, haver uma inversão ou omissão de letras.

Causas possíveis para a disgrafia

A disgrafia pode ter origem:

  • Evolutiva (maturativa) — quando a estimulação inicial não foi suficiente durante a fase de alfabetização; ou

  • Adquirida — quando aparece após uma lesão cerebral.

Áreas frequentemente afetadas incluem:

  • Coordenação motora fina — dificuldade na coordenação olho-mão e mão-olho, no planeamento motor e nas habilidades grafomotoras;

  • Memória de trabalho — dificuldade em reter e manipular informação, afetando a organização e o planeamento ao escrever;

  • Perceção espacial e temporal — uso inadequado do espaço da folha, tendendo a escrever de forma descendente ou ascendente, sem um controlo adequado do espaçamento das palavras e/ou letras;

  • Habilidades psicolinguísticas — dificuldades na conversão fonema-grafema, na fluência da escrita, sintaxe, morfologia, fonologia, semântica e pragmática da linguagem;

  • Lateralidade indefinida — como no caso de algumas crianças ambidestras.

Sinais e sintomas de disgrafia

Detetar a disgrafia cedo pode ser difícil, uma vez que a escrita é uma competência complexa que se adquire ao longo do tempo. Ainda assim, existem sinais que nos podem alertar para o problema:

  • Caligrafia trémula ou pouco legível;

  • Caligrafia inclinada;

  • Traços e/ou letras muito grossos/finos ou pequenos/grandes;

  • Espaços irregulares entre letras e/ou palavras;

  • Pressão demasiado forte ou demasiado fraca no papel;

  • Letras sobrepostas, mal ligadas ou desalinhadas;

  • Escrita muito lenta;

  • Dificuldade em segurar corretamente no lápis;

  • Folhas desorganizadas, sem respeito por linhas ou margens.

Se o seu filho, ou educando, apresenta alguns dos sinais acima, procure um profissional adequado para fazer o diagnóstico.

Exemplos de manifestações da disgrafia

Abaixo, encontra uma tabela com exemplos concretos das manifestações da disgrafia, com base nos tipos e sintomas mais comuns.

Característica

Descrição

Exemplo

Letra ilegível

A caligrafia é difícil de compreender, mesmo para quem escreveu.

A criança escreve a palavra "casa" de uma forma que se assemelha a "cr/s\a", com as letras sobrepostas e mal definidas.

Tamanho e espaçamento irregulares

As letras e palavras têm tamanhos variados e o espaçamento entre elas é inconsistente.

Numa mesma frase, a letra “a” pode aparecer grande e a letra “o” pequena. As palavras podem estar muito juntas ou muito separadas, sem um padrão.

Má orientação espacial

Dificuldade em respeitar as margens do papel e a linha de base da escrita.

A criança começa a escrever no meio da página, a frase pode seguir uma trajetória ascendente ou descendente.

Pressão inadequada do lápis

A força aplicada no lápis é excessiva ou insuficiente.

Ao escrever, a criança pode fazer tanta força que o papel rasga, ou, pelo contrário, a escrita pode ser tão leve que mal se consegue ler.

Lentidão ao escrever

A velocidade de escrita é significativamente inferior à esperada para a idade.

A criança demora muito tempo para copiar um pequeno texto, sendo o último a terminar a tarefa, mesmo notando que está a fazer um grande esforço.

Dificuldade com a escrita cursiva

Problemas em ligar as letras de forma fluida e correta.

As letras não se conectam, ou a ligação é feita de forma desajeitada e incorreta.

Postura e pega do lápis incorretas

A forma como a criança segura o lápis e a sua postura corporal ao escrever são inadequadas.

A criança segura o lápis com todos os dedos, ou com o punho fechado, e inclina-se excessivamente sobre a mesa ao escrever.

Tratamento e intervenção

Não há uma regra para o tratamento ou plano de intervenção, ainda mais porque há diferentes tipos de disgrafia, como descrevemos acima.

O tratamento deve ser adaptado a cada criança, tendo em conta as suas dificuldades. Contudo, podemos dizer que a reeducação do grafismo está relacionada com o desenvolvimento do grafismo, com a especificidade do grafismo e com o desenvolvimento motor.

Nesse sentido, algumas estratégias costumam ser adotadas, entre elas:

  • Terapia ocupacional — útil para melhorar a motricidade fina, a postura, o controlo corporal, a representação mental do gesto usado ao escrever, a perceção espaciotemporal, entre outros aspetos motores;

  • Psicopedagogia — com o intuito de trabalhar a caligrafia e corrigir erros de grafismo;

  • Atividades práticas — desenho, pintura, recorte e outros trabalhos manuais podem ajudar a desenvolver a escrita;

  • Adaptações escolares — algumas crianças podem carecer de tempo extra em testes, por exemplo;

  • Exercícios de relaxamentoreduzir a ansiedade e a tensão durante a escrita com exercícios de relaxamento mostra-se eficaz em crianças com disgrafia.

Apoio em casa e na escola

O acompanhamento dos pais, educadores e professores é muito importante (tanto quanto as terapias). Assim, preste apoio ao seu filho, educando ou aluno:

  • Valorizando o esforço da criança, e não recompensando apenas o resultado;

  • Entendendo e validando os sentimentos da criança quando escreve;

  • Evitando comparações com colegas ou irmãos;

  • Facilitando as adaptações na escola (no caso dos professores);

  • Incentivando jogos e atividades que envolvam coordenação motora;

  • Incentivando uma postura adequada;

  • Criando um espaço calmo para estudar e escrever;

  • Disponibilizando ferramentas que facilitem o uso correto do lápis/caneta;

  • Ensinando técnicas de relaxamento;

  • Celebrando pequenas vitórias no processo de aprendizagem.

FAQ’s

A disgrafia tem cura?

A disgrafia não tem cura, mas existem estratégias de intervenção que vão ajudar a reduzir os sintomas, fazendo com que a criança melhore significativamente a escrita.

Como distinguir disgrafia de letra feia?

A “letra feia” melhora ao longo do processo de ensino, enquanto a disgrafia mantém padrões persistentes de desorganização, dor ou esforço excessivo ao escrever.

Quem faz o diagnóstico da disgrafia?

O diagnóstico de disgrafia é feito por equipas multidisciplinares, com neuropediatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais e psicopedagogos.

É importante identificar a disgrafia precocemente, uma vez que a intervenção/tratamento obtém melhores resultados quanto mais cedo começar.

O apoio especializado, as intervenções personalizadas e o acompanhamento da família e da escola é essencial para reduzir as dificuldades e para dar à criança as ferramentas necessárias para se desenvolver de forma confiante e autónoma.

Sara Paiva
Socióloga de formação, Copywriter de paixão. Sou uma apaixonada por literatura (e pelas artes em geral), o que me levou a seguir uma carreira na área da escrita. Desenvolvo conteúdos para o Toma Conta com o objetivo de ajudar os utilizadores a obterem a melhor informação possível.

Mais autores do Blog

Nair dos Santos

Nair dos Santos

Technical SEO e Copywriter. Apaixonada por leitura e escrita, raramente me separo de um bom livro. Sensível ao modo como a Internet pode simplificar o quotidiano, escrevo no Toma Conta para ajudar os leitores a encontrar informação rigorosa e atualizada sobre serviços e tarefas de apoio ao domicílio.

Ver artigos
Susana Valente

Susana Valente

Escrevo conteúdos para a web há mais de 20 anos como jornalista e copywriter. Adoro explorar montes e vales por esse país fora. Detesto fazer mudanças e adoro correr à beira-mar. Tenho veia de poeta, sou mãe e uma verdadeira mulher dos sete ofícios!

Ver artigos

Deixe o seu comentário