
A gaguez é uma alteração no ritmo da fala, caracterizada por um discurso com bloqueios, prolongamentos, repetições ou palavras partidas. Saber os tipos de gaguez e quais as melhores formas de lidar com o problema é essencial para uma vida com maior qualidade.
Apesar dos muitos mitos que envolvem este problema da fala, deixamos claro, desde já, que ninguém fica com gaguez devido a um susto, mas é possível que esta seja temporária/transitória (mais comum em crianças entre os 2 e os 5 anos e não costumam durar mais do que 6 meses).
O Dia Internacional da Gaguez celebra-se a 22 de outubro.
É importante estar alerta para os sinais de gaguez desde a infância, especialmente se vem acompanhada de outros comportamentos, como movimentos da face e/ou corpo.
O que é a gaguez e quais os sintomas?
De acordo com a OMS, a gaguez caracteriza-se por uma alteração no ritmo da fala. A pessoa com gaguez sabe o que quer dizer, mas não o consegue fazer fluentemente devido a movimentos involuntários da face e do corpo. Trata-se, portanto, de uma perturbação da fluência da fala.
Pessoas com esta alteração da comunicação apresentam um discurso marcado por:
Bloqueios;
Prolongamentos de sons;
Repetições de sons/sílabas;
Palavras partidas;
Timbre e volume da voz mais elevados;
Inclusão de um som no discurso;
Pausas invulgares;
Tremores ou movimentos involuntários em volta dos lábios quando tentam reproduzir um som/palavra.
Ao longo da vida, as pessoas que gaguejam aprendem a evitar palavras em que bloqueiam, substituindo-as, quando possível, por outras sinónimas.
Esta é uma condição comum: mais de 68 milhões de pessoas têm esta perturbação em todo o mundo (cerca de 1% da população mundial).
Em Portugal, estima-se que a gaguez afete cerca de 100 mil pessoas.
Estima-se que cerca de 5% das crianças passam por um momento em que se verificam bloqueios, pausas, repetições e prolongamentos na comunicação, mas tem uma duração curta (3 meses, sensivelmente) e 75% destas recuperam de forma espontânea.
A gaguez é quatro vezes mais comum no género masculino.
Tipos de gaguez
Gaguez do desenvolvimento, infantil ou transitória
Este tipo de gaguez costuma surgir entre os 2 e os 5 anos. É comum as crianças começarem por apresentar episódios de disfluências, sendo que estes se tornam mais cíclicos e aparecem/desaparecem aleatoriamente.
Como identificar?
Não ocorrem mais de 2 repetições seguidas;
As repetições mais comuns são de interjeições;
As repetições não têm associados uma tensão física ou um esforço;
Não apresentam mais do que 10 disfluências em 100 palavras;
A criança não tem consciência das suas disfluências;
O quadro de gaguez não se agrava (tende a aligeirar-se com o tempo).
Gaguez fisiológica
A gaguez fisiológica, também chamada redundância verbal, consiste na repetição de uma sílaba ou palavra (duas ou mais vezes), regra geral no início da frase. Esta pode enquadrar-se na gaguez de desenvolvimento, contudo, não se verifica o elemento espasmódico, comum num quadro de gaguez patológica.
Este tipo de gaguez surge, geralmente, em crianças por volta dos 3 anos e costuma desaparecer por volta dos 5 anos.
Gaguez neurogénica
Este tipo de gaguez resulta de uma lesão ou disfunção no sistema nervoso central, como pode acontecer em casos de AVC (que causam também afasia), traumatismo craniano, tumores cerebrais, ou doenças neurológicas.
Neste caso, a pessoa comunica com bloqueios e repetições, mas não apresenta o padrão típico da gaguez infantil.
Gaguez psicogénica
Este tipo de gaguez é muito raro. Geralmente, surge de forma súbita, associada (na maioria das vezes) a acontecimentos traumáticos. A gaguez repentina é comum nos casos psicogénicos, assim como nos neurogénicos.
O que provoca a gaguez?
A gaguez pode ter origem hereditária (ou seja, tem uma causa genética), mas pode ter origem psicossocial (esta está associada à pressão da família/educadores para que a criança fale corretamente, gerando ansiedade, ou até possíveis transtornos de ansiedade, stress e medo) e neurológica.
Cerca de 60% dos casos têm fatores genéticos associados.
Um AVC ou um traumatismo craniano também podem causar um quadro de gaguez.
A gaguez tem tratamento?
Sim. Existem estratégias que diminuem/eliminam os fatores desencadeadores da gaguez.
Um terapeuta da fala é o profissional indicado para lidar com estes casos, uma vez que tem conhecimentos e ferramentas que auxiliam a eliminar o medo de comunicar em público e os fatores motivadores dos problemas de comunicação.
É essencial procurar ajuda o mais cedo possível. Uma intervenção precoce melhora os resultados da terapia.
Além da terapia da fala, é muito importante que pais e familiares estejam ativamente envolvidos no tratamento, por forma a saberem agir corretamente nos diferentes estágios do tratamento.
Como agir corretamente perante uma pessoa com gaguez?
Independentemente do tipo de gaguez (seja ela crónica ou transitória), é fundamental que as pessoas em redor de crianças ou adultos com gaguez mantenham uma atitude positiva.
Se tem alguém na família que gagueja, siga as estratégias abaixo:
Não interrompa o discurso ou complete as palavras
Espere sempre a sua vez de falar, sem apressar, interromper o discurso por prever o que o outro vai dizer ou completando as palavras.
Uma pessoa que gagueja beneficia de um diálogo com poucas interrupções. Interromper o discurso de uma pessoa com gaguez pode fazê-la voltar atrás no assunto, aumentando a frustração e demorando mais tempo a comunicar.
Não tenha falas que evidenciem a gaguez
Dizer para alguém que gagueja para pensar antes de falar, para ter calma, ou falar mais devagar, além de não ajudar, vai fazer com que a pessoa fique ainda mais focada nas disfluências, aumentando a ansiedade e a frustração.
Fale com calma
Um diálogo não precisa de ser apressado. Mostre que não se importa com o tempo e fale com calma, fazendo pausas frequentes.
Atente no conteúdo e não na forma como a mensagem é transmitida
Sabemos que pessoas com gaguez podem ficar frustradas por não terem uma comunicação fluida. Assim, preste atenção ao conteúdo da mensagem que a pessoa está a passar, não à forma como ela é dita.
Cuidado com a expressão facial também, pois pode dar a entender que está desinteressado no que a pessoa está a falar, podendo causar maior frustração.
Não faça da gaguez um tabu
A gaguez não deve ser tratada como um tabu ou da qual se deva envergonhar. Aborde o assunto da mesma maneira que falaria de qualquer outra coisa trivial. Quanto mais normalizada for, mais fácil será lidar com ela.
Perguntas frequentes
Pessoas com gaguez são menos inteligentes?
Não. As pessoas com gaguez são tão inteligentes como as pessoas fluentes na comunicação.
Dificuldade repentina em falar pode ser sinal de gaguez?
Uma alteração súbita da capacidade de articular ou produzir palavras pode não ser um indicativo de gaguez. As causas prováveis estão associadas a patologias, como:
AVC;
Traumatismo craniano;
Epilepsia;
Ataque isquémico transitório (AIT);
Crises de ansiedade ou ataques de pânico;
Problemas neurológicos ou motores.
A gaguez desaparece sem intervenção?
A gaguez crónica não desaparece. É fundamental que a intervenção de um terapeuta da fala ocorra o quanto antes. A eficácia da terapia é maior em casos de gaguez com menos de um ano.
A gaguez pode ser ultrapassada se a pessoa se esforçar?
Não. A gaguez não é um comportamento voluntário e, como tal, por muito que a pessoa se esforce para falar fluentemente, é algo que não controla.
Um susto pode causar gaguez?
Não. Este é um dos principais mitos em torno da disfluência. Não há nada que indique que um susto cause o problema.
Pessoas com gaguez são mais tímidas, inseguras e ansiosas?
Não. A gaguez não está relacionada com traços de personalidade.
Devemos falar sobre gaguez a uma criança que gagueja, mas não tem noção disso?
Não. Se uma criança gagueja, mas não tem noção que o faz, não se deve abordar o assunto, pois pode agravar o problema. Procure ajuda de um terapeuta da fala o quanto antes.
