
A disfonia é um problema vocal relativamente comum que afeta pessoas de diferentes faixas etárias e profissões.
Trata-se de uma alteração na qualidade da voz que pode manifestar-se de diversas formas, tais como rouquidão, fadiga vocal ou até perda parcial da capacidade de falar.
Este problema pode ter várias causas, desde o uso excessivo da voz até condições médicas mais sérias, como veremos já de seguida.
Os casos mais comuns ocorrem, habitualmente, entre os 8 e os 14 anos, com os meninos a serem mais afetados do que as meninas, segundo diversos estudos.
Também existem certas profissões com maior incidência de disfonia por exigirem o uso intenso da voz, como é o caso de professores, cantores, palestrantes e operadores de call center.
Mas vamos, então, explorar o tema de forma mais detalhada.
O que é disfonia?
A disfonia é qualquer alteração na voz e na capacidade de falar que impede uma emissão clara e natural. Pode ser um problema temporário ou crónico e pode afetar pessoas de todas as idades.
Os sintomas mais comuns desta condição incluem:
Rouquidão persistente
Sensação de esforço ao falar
Perda de potência na voz
Dor ou desconforto ao falar.
4 Tipos de disfonia
Existem diferentes tipos de disfonia, dependendo da causa e da forma como afetam a voz. Vamos falar, de seguida, dos principais e das diferenças mais fundamentais entre eles…
1. Disfonia funcional
A disfonia funcional é um tipo de alteração vocal que ocorre sem que haja lesões estruturais nas cordas vocais. Portanto, não há um problema físico evidente.
Este tipo de disfonia pode surgir devido ao uso excessivo, ou inadequado, da voz, nomeadamente em profissionais que mais precisam desta ferramenta de comunicação.
Assim, o esforço excessivo a falar ou a cantar pode causar disfonia funcional, comprometendo a qualidade da voz. Fatores emocionais como ansiedade e stress também podem afetar a produção vocal.
O uso incorreto da respiração e da projeção da voz pode igualmente levar a disfonia funcional, manifestando-se com sintomas como rouquidão, fadiga vocal e dificuldades para falar.
As pessoas sentem que fazem um esforço ao falar e podem perder a potência na voz.
2. Disfonia orgânica
Ao contrário da disfonia funcional, neste caso existem alterações físicas nas cordas vocais ou na laringe, por exemplo, nódulos, pólipos ou tumores. Também pode haver paralisia das cordas vocais.
As pessoas com disfonia orgânica podem sentir rouquidão persistente devido às lesões nas cordas vocais, bem como esforço ao falar, perda de intensidade vocal e variações na frequência da voz.
3. Disfonia neurológica
Este tipo de disfonia está relacionado com distúrbios neurológicos que afetam o controle dos músculos da laringe. A disfonia espasmódica, que causa espasmos involuntários nas cordas vocais, é exemplo disso.
Na disfonia espasmódica, os músculos da laringe ficam afetados, o que leva a espasmos involuntários que podem tornar a voz tensa, fragmentada ou até mesmo interrompida, dificultando a comunicação.
Há três formas principais de disfonia espasmódica:
Adutora - os músculos da laringe contraem-se excessivamente, levando a voz a parecer sufocada ou forçada, especialmente ao pronunciar vogais.
Abdutora - os espasmos causam a abertura excessiva das cordas vocais, resultando numa voz fraca e sussurrada.
Mista - combina características das formas adutora e abdutora, variando conforme o momento e pode ser bastante debilitante, pois afeta a fluência e a qualidade da voz de maneira imprevisível.
4. Disfonia psicogénica
A disfonia psicogénica é causada por fatores psicológicos, como stress crónico, ansiedade e traumas emocionais.
Ao contrário da disfonia orgânica, que tem origem em alterações físicas na laringe, ocorre sem que haja lesões estruturais, sendo frequentemente associada a eventos de vida negativos e a dificuldades de autoexpressão.
Os sintomas podem incluir rouquidão, voz fraca ou até perda total da voz, sem uma causa médica evidente. Muitas vezes, a pessoa demora a procurar ajuda, acreditando que se trata de um problema passageiro.
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Causas da disfonia
A disfonia está associada a diversas causas, desde fatores comportamentais até condições médicas mais sérias. Entre as principais razões que podem estar por trás desta condição estão:
Uso excessivo ou inadequado da voz - falar alto, gritar ou cantar de forma inadequada;
Lesões nas cordas vocais - nódulos, pólipos e úlceras que podem surgir devido ao esforço vocal ou traumas;
Refluxo gastroesofágico - o ácido do estômago pode irritar as cordas vocais, causando inflamação;
Infeções respiratórias - sinusite, amigdalite e bronquite, que podem afetar a voz;
Doenças neurológicas - condições como a doença de Parkinson e um AVC (acidente vascular cerebral), que pode causar problemas como a afasia;
Alterações hormonais - mudanças que ocorrem, por exemplo, na menopausa, podem afetar a voz;
Tumores nas vias vocais (benignos ou malignos);
Fatores emocionais como stress e ansiedade, que podem levar à tensão muscular na região da laringe;
Tabagismo e exposição a outros agentes químicos, que podem danificar as cordas vocais.
Se a disfonia persistir, é recomendável que procure um profissional médico para avaliação e para definir um tratamento adequado.
Tratamentos para a disfonia
O tratamento da disfonia depende da causa subjacente e da gravidade do problema. Mas deve ser sempre orientado por um profissional de saúde especializado, que avaliará a melhor abordagem para cada caso.
Vamos explorar, de seguida e de forma breve, alguns dos principais tratamentos utilizados neste âmbito...
Terapia da Fala
A terapia da fala é sobretudo indicada para casos de disfonia funcional e algumas disfonias orgânicas leves, ajudando a restaurar a qualidade vocal e a prevenir danos futuros. O processo envolve diversas abordagens, tais como:
Treino vocal para melhorar a emissão da voz, reduzir o esforço e a tensão muscular;
Exercícios respiratórios para melhorar o controle da respiração para uma produção vocal mais eficiente;
Relaxamento laríngeo para aliviar a tensão muscular na região da laringe;
Reeducação vocal com orientações sobre hábitos saudáveis para preservar a voz;
Terapia manual através da manipulação da região laríngea para melhorar a qualidade vocal.
O tratamento deve ser personalizado conforme a causa da disfonia e pode incluir acompanhamento multidisciplinar, com recurso a outras terapias complementares.
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Medicamentos
Quando a disfonia é causada por inflamações ou infeções, o tratamento pode envolver medicamentos anti-inflamatórios ou antibióticos.
Em casos de refluxo gastroesofágico, existem também medicamentos para reduzir a acidez estomacal, que ajudam a proteger as cordas vocais. E os inibidores de refluxo permitem evitar a irritação das cordas vocais.
Se a disfonia for causada por uma infeção bacteriana, a melhor solução será recorrer a antibióticos. Os anti-histamínicos são adequados para tratar alergias que afetam a voz.
Em todo o caso, é importante que nunca se automedique. Procure um médico para ter acesso à melhor terapêutica para o seu caso.
Saiba mais: Medicina integrativa: o que é e para que serve?
Cirurgia
A cirurgia para o tratamento da disfonia é recomendada em casos específicos, geralmente quando há lesões estruturais nas cordas vocais que não podem ser tratadas apenas com terapia vocal ou medicamentos.
Algumas situações em que a cirurgia pode ser necessária incluem:
Nódulos ou pólipos vocais persistentes que não melhoram com terapia da fala;
Tumores benignos ou malignos que afetam a laringe e comprometem a voz;
Paralisia das cordas vocais, que pode causar dificuldades respiratórias e de fala;
Lesões traumáticas que alteram a anatomia das cordas vocais;
Papilomatose laríngea, uma condição viral que pode causar crescimento anormal de tecido na laringe.
O procedimento cirúrgico pode variar conforme o caso e pode incluir microcirurgia laríngea ou outras técnicas minimamente invasivas.
Como cuidar da voz para evitar a disfonia
Antes de sofrer de disfonia, pode, e deve, ter alguns cuidados simples de prevenção para manter a sua saúde vocal, nomeadamente:
Beber água com frequência ao longo do dia para manter as cordas vocais bem lubrificadas;
Não grite ou fale alto por períodos prolongados, para evitar provocar tensão nas cordas vocais;
Evite alimentos que causem refluxo gastroesofágico, como comidas muito ácidas ou picantes;
Não fume e limite o álcool, pois podem prejudicar a qualidade da voz e aumentar o risco de problemas vocais;
Se sentir rouquidão ou cansaço ao falar, faça pausas e evite forçar a voz;
Evite falar em ambientes muito secos ou poluídos, já que o ar seco pode ressecar as cordas vocais, tornando a voz mais áspera;
Pratique técnicas de aquecimento vocal antes de falar por longos períodos para evitar lesões.
Se a disfonia persistir, é importante procurar um especialista, como um otorrinolaringologista ou um fonoaudiólogo, para avaliar a causa e indicar o melhor tratamento.
Esta condição pode comprometer a qualidade de vida (não apenas a quem depende da voz profissionalmente). Afinal, falar é uma ferramenta essencial de comunicação para o nosso dia a dia.
Por isso, cuide da sua saúde vocal para evitar a disfonia e outros problemas de saúde nesta área tão fundamental.